segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

Os 120 dias de Sodoma ou A escola da libertinagem

Ao escrever 120 dias de Sodoma ou A escola da libertinagem ao longo de anos incertos na virada do século XVIII para o séc. XIX, com as tintas furiosas da loucura, Marquês de Sade compôs o que ainda hoje talvez seja o mais completo tratado enciclopédico sobre o universo das perversões sexuais. 

O Marquês morreu antes de concluir seus manuscritos e acreditando que eles tinham sido perdidos. Hoje, se estivesse vivo, talvez fosse o único ser humano capaz de concluí-lo,  e debocharia regiamente de nossa sociedade e suas limitações hipócritas em termos de sexo. 

sábado, 26 de dezembro de 2009

História do olho – Georges Bataille

Este belíssimo clássico da literatura erótica foi escrito por Bataille em 1928, sob o pseudônimo Lord Auch durante uma terapia heterodoxa com Adrien Borel. O primeiro foi W.–C., também escrito como "tema de casa" terapêutico, mas queimado pelo próprio autor (não pelo seu conteúdo libertino, mas pelo seu conteúdo e pensamentos demasiado filosóficos).

A novela acompanha as descobertas, feitos e extravagâncias sexuais do narrador e de sua amiga Simone, dois jovens que vivem magicamente à margem da censura adulta, percorrendo um cenário de sonhos. O livro faz da história libertina um veículo de revelações profundas sobre o corpo, a vida e a morte.

quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

Valsa patrimonial [miniconto]

Separaram-se judicialmente e voltaram juntos para casa, onde foram felizes para sempre.

Cuidando de dona Carolina [conto]

Perfuro com a agulha a pele frágil do braço de dona Carolina, que não oferece resistência alguma. Ela tem o olhar cada vez mais distante. É apenas o restinho de uma vida que ronca sobre a cama a intervalos cada vez mais curtos. A textura lembra um plástico fino e brilhoso que o tempo tivesse estendido sobre seu corpo. Aperto a seringa vagarosamente e vejo meu sangue negro escarlate se injetando e começando a desaparecer dentro de sua veia. Penso que desta vez deve ser o suficiente. Ela me olha agradecida e volta a dormir. Daria mais, se fosse preciso, para acabar com seu sofrimento. Para que ela tivesse mais da força de que precisa. 

Bonequinho vodu
ou
O menino das agulhas [conto]


Eu agüento tudo, meu filho. O isolamento, a servidão, a vergonha. E já fui longe demais, muito além do que imaginaria que me fosse possível. Tudo para cuidar bem de ti, em cima dessa cama, com o olhar amargo que me culpa pelo acidente; tudo para cuidar do teu pai, que acorda todos os dias, toma o café que eu preparei para ele, segue para o trabalho, tem uma vida normal e volta tarde para casa, com o olhar frio e sem desejo para mim.

segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

Auto-ajuda para escritores


Oficina de escritores, de Stephen Kock, é um livro delicioso voltado para escritores iniciantes ou escritores com qualquer tipo de bloqueio criativo. O volume reúne o melhor de diversos livros de entrevistas onde escritores falam de seus processos criativos.

Pequenas fábulas urbanas #5 – Brincando de Boneca

Zapeando pelos canais da TV à cabo em uma noite de sexta-feira, a mulher se sentia absurdamente entediada. Foi então que se virou para o marido, deitado ao seu lado na cama, e disse: ai, Carlos, me deu agora uma vontade de dar a bunda! Positivamente surpreso, ele olhou para a esposa e falou: Mariana, como você pôde adivinhar? Era exatamente disso que eu estava precisando. Então os dois se arrumaram e saíram de casa. Rodaram com o carro e escolheram uma travesti ajeitadíssima, nas proximidades do Parque Trianon. Passaram a noite com ela, que comeu a bunda dos dois exatamente como queriam. No dia seguinte foram os três para o sítio do casal, e durante o final de semana descobriram que nunca é tarde para brincar de bonecas.

sábado, 5 de dezembro de 2009

Richardson

Inspiração total para pessoas libertinas como eu, tanto como fotógrafo quanto como personalidade, Terry Richardson vive plenamente sua arte e sua sexualidade, abalando todas as estruturas. Isso aparece em cada ideia, clique, desenho e projeto do artista.

sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

Morbidez [miniconto]

De mãos dadas, ao redor de sua cama, todos nós rezamos para que nossa amiga morresse.

quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

Feliz aniversário, Sibila [conto]

Hoje Sibila faria 33 anos, e não lembrei da data para ninguém. Nem para o meu marido, que tinha tanta pena dela. O João Carlos sempre foi tão compreensivo, pedindo que eu tivesse mais paciência. Afinal, ela era minha irmã. Também não fui ao cemitério. O dia não é para ser motivo de comemoração e muito menos de tristeza. Não me envergonho de admitir que sua morte foi um verdadeiro alívio para todos nós. Mesmo morta, às vezes ainda sinto sua presença, e é como se ela estivesse prestes a se materializar a qualquer momento, junto à cama de nosso filho, neste quarto que um dia foi dela.

terça-feira, 24 de novembro de 2009

Raiva nos raios de sol

Tendo a violência como nota predominante e com alguns toques de escatologia, Fernando Mantelli fez deste um grande livro de contos. A linguagem é muito moderna e direta, e as histórias são memoráveis, com temas atuais e pertinentes.

quinta-feira, 19 de novembro de 2009

Contos de Belkin - Алекса́ндр Пу́шкин

Os russos. Ah, os russos e seus contos de efeito. Temos neste pequenino volume de Alexander Pushkin (Алекса́ндр Пу́шкин, para os mais íntimos com a língua russa) uma verdadeira jóia exemplar. Tive o prazer de ler essa coleção de cinco contos em novembro de 2003 e reli agora, em novembro de 2009. Escritas no século XIX por um autor em quarentena devido a uma epidemia de cólera, as narrativas têm enredos trágicos mas são escritas em tom irônico – algumas com um delicioso toque farsesco.

quarta-feira, 18 de novembro de 2009

Pequenas fábulas urbanas #4 – O principezinho tirana

m uma ilha do oceano atlântico, onde resiste um dos últimos reinados deste nosso mundo prá lá de globalizado – no qual a Coca-cola já chegou à China, e a coca e a cola já chegaram a praticamente todos os lugares –, nesta ilha vivia um principezinho que era uma verdadeira tinhosa. Isso quem dizia eram os seus companheiros de escola e de noitada, toda vez que eles saíam juntos para barbarizar. E eles saíam freqüentemente, tipo todo o final de semana. Uma verdadeira loucurinha nos bares e boates gays. Mas eram sempre escoltados por seguranças paisanos da guarda imperial, que fechavam as casas noturnas e intimidavam ou compravam eventuais curiosos, para que o principezinho surubasse em paz e com relativa privacidade. Até que um dia ocorreu o inevitável: um paparazzo conseguiu clicar o principezinho em diversas poses para lá de provocantes. A fotos incluiam arretos com direito a chupão no peito e passada de mão pelos países baixos dos amigos de noitada, que há muito tempo já haviam virado democracias populares. Aquilo foi impresso em edição extra nos jornais da imprensa marrom no dia seguinte e atiçou o movimento GLBT. A história acabou com o principezinho virando não só de bruços, mas virando o rei daquele país. Melhor dizendo, não apenas rei daquele país, como também o rei do mundo homossexual unido. Leia-se: imperador de no mínimo três quartos do mundo sexualmente assumido e sadio. A rainha, que no princípio havia posado de chocada, desempenhando protocolarmente o seu papel, acabou se declarando muito orgulhosa de seu filho, que sabia como ninguém acompanhar os tempos modernos, garantindo assim que a monarquia encontrasse seu território no mundo globalizado. Pagou para ele uma sessão de fotos com Terry Richardson que virou best seller e aqui acaba nossa história. Procure no Google e você encontrará as fotos das quais estou falando. Quando ao príncipe, ele continua reinando e fervendo mais do que nunca, enquanto balança suas tranças livremente no submundo. Uma verdadeira rainha do sexo.

A casa dos budas ditosos

Se alguém me perguntasse como eu demorei tanto para ler este livro de João Ubaldo Ribeiro, lançado em 1999, eu não saberia responder ao certo. Talvez seja porque o livro fez tanto sucesso na época, integrando a série Plenos Pecados. Na época, li Xadrez, truco e outras guerras, de José Roberto Torero, e não achei o bixo. Também tinha uma peça de Fernanda Torres, que infelizmente perdi. Creio que ela vá retomar futuramente, pois o texto é impagável.

terça-feira, 17 de novembro de 2009

Katharina & Sebastião [conto]

“Triste é partir sem data para regressar.

Ainda mais triste é o regresso, quando não há ninguém à espera.

E acontece que a vida é uma grande viagem, para a qual não se tem data marcada, na qual a esperança de que alguém fique à espera acaba sendo uma esperança só. Ou a desesperança de quem não pôde esperar mais.”

Bonito, isso.

segunda-feira, 16 de novembro de 2009

Billy Budd and Other Stories - Melville

Esta edição inclui o excelente conto Bartleby, o escriturário. O prefácio é muito bem escrito por Frederick Busch, com notas esclarecedoras sobre sua vida e sua relação com Nathaniel Hawthorne. O volume é uma ótima opção para se conhecer o trabalho do mestre Melville, em especial os contos e novelas. Ganhei a edição da Penguin Books para o mercado britânico de meu cunhado Lawrence há anos atrás e estou lendo pela segunda vez. Também existe versão para o Kindle. É um dos grandes livros de contos em língua inglesa.

domingo, 15 de novembro de 2009

55ª Feira do livro de Porto Alegre - Balanço

A Feira do Livro de Porto Alegre encerrou suas atividades em meio a polêmica acerca da diminuição na venda de unidades de livros. Alguns argumentam que, com o advento dos e-readers e da crescente indiferença das novas gerações em relação à literatura tradicional, ela está fadada a acabar em cerca de dez anos. Os números mostrariam isso. Outros afirmam que os livros realmente interessantes não são encontrados nas barracas da feira pelos verdadeiros leitores. Ambos estão certos, de alguma forma. O certo é que a Feira do Livro de Porto Alegre segue sendo um evento muito mais cultural do que de mercado – e isso é fascinante. Está aí o caminho para que ela não acabe jamais.

quinta-feira, 12 de novembro de 2009

Pequenas fábulas urbanas #3 – A velhota e o cachorrinho

avia uma velhinha que morava logo ali na esquina, e que era tão puta, mas tão puta, que dava o rabo até para os cachorros. E não importava se os cãezinhos eram daqueles de rabo cortado ou não. Todos eles balançavam o rabo ou o cotoco de rabo assim que a viam. Um dia, porém, apareceu em sua porta um dálmata de coleira e tudo. E ela, que dava até para os vira-latas de rua, porque não iria dar também para aquele charmoso canino? Assim o fez e, após alguns minutos de intercurso, ficou com o nó do cachorro entalado. Meu Deus, o que fazer, o que fazer? – dizia ela angustiada e morrendo de tesão. Foi então que sua irmã gêmea chegou em casa e, ao abrir a porta exclamou. Oh, Gertrudes, que bestialidade! Ela disse, oh, minha querida irmã, me acuda. Estava eu encerando o chão quando fui carcada por esse belíssimo cão. A mana riu e tentaram desengatar de tudo quanto foi jeito. Água quente, água gelada, tração. Pensaram até em usar uma faca de churrasco, mas ficaram com pena do bichinho. Dessarte, chamaram o médico da família, que não lhes deu muita esperança. Disse que não tinha remédio a não ser esperar. Aquilo que tinha entrado, cedo ou tarde, por fim sairia. Isso aconteceu – 2 horas depois. No dia seguinte, um homem desesperado batia de porta em porta atrás de seu cão. Bateu na porta de Gertrudes e ela lhe devolveu seu pet. Do dálmata ficou apenas a lembrança e o inchaço. Aconteceu assim. Ela ainda vive ali naquela esquina que tem cheiro de creolina na calçada. Quem passa pela frente da casa pode ouvir os latidos de mais de uma dúzia de cachorros que ela junta na rua e leva para morar com ela e a irmã.

segunda-feira, 9 de novembro de 2009

Pequenas fábulas urbanas #2 - Puterella

conteceu, em uma terra muito distante de ser um lugar livre dos preconceitos – e isso não faz muito tempo, não. Uma menina de classe média-alta, criada dentro da tradição cristã, trabalhava em um consultório médico e estudava na universidade federal. Mas ela não era feliz, tinha uma vida miserável, com a rotina massacrante do trabalho e dos estudos, sem poder fazer nada do que gostava. Então resolveu abandonar a vida madrasta e foi ser puta. Batalhou na zona do baixo meretrício durante anos e era muito feliz. Mas via que o negócio na zona tinha que melhorar muito, ainda. Então resolveu batalhar também pelos seus direitos e pelos direitos de todas as outras prostitutas. Fundou um sindicato, uma ONG para unir todas as suas amigas de profissão e também uma marca de roupas para elas usarem e ficarem mais bonitinhas. Assim aproveitava para levantar um dinheiro pela causa. Deu tudo tão certo que as pessoas da sociedade começaram a olhar para ela com interesse. Um dia apareceu um homem em sua vida. Não era príncipe e não veio montado no cavalo. Mas ele a amava de verdade e até largou seu trabalho para ajudá-la em seus projetos. Assim, eles foram felizes para sempre, freqüentavam os bailes e todos os salões da alta sociedade, ambos com o passo firme e a cabeça ereta. Tanto que ela nunca perdeu o sapato e jamais houve essa bobagem de abandonar a festa à meia noite para não virar abóbora. Histórias como essa existem muitas e são cada vez mais notórias.

Contos negreiros

Contos Negreiros, de Marcelino Freire, é uma pequena jóia literária que foi merecedora do prêmio Jabuti em 2006. São 16 textos que trazem o eco dos cordéis do Recife, com temas atuais e uma narrativa moderna, solta e rápida. Como diz o próprio autor, ele começa seus contos já querendo terminar. Tem um estilo inconfundível. Entre os assuntos, estão o tráfico de órgãos, a homossexualidade, o turismo sexual, a prostituição infantil, todos amarrados pelo tema da escravidão e da negritude. Eu comprei esse livro e também o seu mais novo, Rasif, na última feira do livro. Também tive a oportunidade de conhecer e conversar um pouco com o Marcelino, que é um cara muito bacana, relax, bom papo. Indico o livro para quem quiser sacar o que é fazer literatura hoje para as pessoas de hoje.

E também indico o blog do autor: http://www.eraodito.blogspot.com/

quinta-feira, 5 de novembro de 2009

O visitante noturno

Este volume reúne duas novelas de B. Traven, um dos mais obscuros escritores do século XX, cuja real identidade ainda permanece um enigma. 
A primeira delas é a que dá nome ao livro. O visitante noturno conta a história de um aventureiro que abandona a civilização e vai viver nos confins da selva. Lá, acaba tomando conta da casa de um vizinho enquanto esse viaja. Durante sua ausência, aproveita para explorar a biblioteca do vizinho, mas é atropelado por experiências aterradoras. 

Uns trocados [conto]

Ele disse pro patrãozinho, no dia anterior, que não carecia de pagamento naquele mês. Ainda tinha dinheiro que chegava até o final do próximo, no mínimo. Era sujeito que poupava e não era dado a luxos. Além do mais, não estava precisando de nada. Nem ele nem a irmã.

domingo, 1 de novembro de 2009

Uma puta escritora

Conheci ontem, na 55ª Feira do Livro de Porto Alegre, uma pessoa extraordinária. Gabriela Leite, que já no título de seu livro se define como Filha mãe avó e puta. Mas ela é muito mais do que isso, ela é a fundadora do movimento das prostitutas no Brasil, criadora da ONG DaVida, da confecção Daspu e está aí escrevendo o seu nome nas histórias da literatura brasileira da moda. Coisa que festejo com ela, já que a literatura é também a promoção do entendimento entre as pessoas, e o preconceito é coisa cada vez mais demodé.

sábado, 31 de outubro de 2009

Vozes da cidade #4

Transcrições selecionadas de registros feitos por 10 gravadores itinerantes dentro do Brasil:

domingo - 25/10/2009 - 9h25 - Rio de Janeiro/RJ - Praia de São Conrado

MULATA: – Ih, qualé, preiboy? Tá me secando?
GAROTO: – Desculpa aí, princesa. Se eu tô te secando é porque pensei que tu tava molhadinha...
MULATA: – Aí, ó! Se liga, maluco! Criança que brinca com fogo é que se molha de noite nas cobertas...

Vozes da cidade #3

Transcrições selecionadas de registros feitos por 10 gravadores itinerantes dentro do Brasil:

sábado - 17/10/2009 - 13h15 - Rio de Janeiro/RJ - Entrada da estação de bondinho do pão de açúcar

FUMANTE: – fffffffff
PEDESTRE, furioso: – A senhora fique sabendo que meu pai morreu por causa do cigarro!
FUMANTE: – Ah, é?... Meus pêsames! fffffffffff

sexta-feira, 30 de outubro de 2009

O pequeno príncipe popup

A nova edição de O pequeno príncipe em versão pop-up é mais do que uma leitura, é uma experiência. Deixo logo um aviso aos que comprarem pensando em dar de presente para algum sobrinho, que não abram o volume. Estranhas reações de apego foram observadas em pessoas de todas as idades que entraram em contato com a obra.

quinta-feira, 29 de outubro de 2009

Pequenas fábulas urbanas #1 – A gineco sapatão

ra uma vez uma ginecologista. Ela recebia em seu consultório mais ou menos uma dúzia de pacientes por dia. A maioria delas possuía plano de saúde, poucas pagavam a consulta particular – que era caríssima. Mas isso não vem ao caso. O que interessa é que, certo dia, uma dessas pacientes, que era modelo fotográfico e uma mulher de parar o trânsito, lhe fez uma proposta. Ela disse assim: eu sempre venho aqui e você me apalpa. Quem sabe a gente não troca, pelo menos uma vez? A médica ficou um tanto surpresa, levantou a sobrancelha esquerda, e aceitou. E para poupar o tempo de vocês, que levam uma vida muito corrida, eu posso dizer que elas foram felizes para sempre, e ninguém tem nada a ver com isso. Morram de inveja. Fim.

Olhos negros [conto]

Acordou alguns segundos antes de o despertador tocar, como costumava acordar todos os dias.

Era uma manhã especialmente clara. A luminosidade invadia o quarto como nunca percebera que poderia iluminar. Pensou que deveria providenciar uma dessas cortinas mais modernas, emborrachadas e com foto-isolamento, mas isso faria com que dormisse até mais tarde.

terça-feira, 27 de outubro de 2009

Imortal [miniconto]

Se todos os computadores estragassem, escreveria com lápis. Assim que o grafite terminasse, usaria a caneta. Ao se acabar a tinta, escreveria com carvão, ou giz, ou arranharia com uma chave. Não conseguindo encontrar mais nada para riscar, usaria os dedos para escrever na areia, nas paredes, no chão de concreto. Gastaria cada um deles, até romper a pele, a carne – até atingir as falanges. E quando não tivesse mais forças para escrever, ainda assim morreria com muitas histórias guardadas e por contar. De sua jornada ficariam os papéis guardados, os papeis apodrecendo, os originais não editados, os bits e bytes perdidos em alguma conexão da rede. E todos se esqueceriam dele e de suas histórias, menos aquela única leitora que viu um dia sentada no ônibus, folheando seu livro com uma lágrima tímida no olho direito. Tão distraída, que nem viu o escritor bem ali do seu lado.

João do Rio

Como pode um autor como Paulo Barreto, mesmo sob o pseudônimo de João do Rio, ter caído no esquecimento, sendo que este autor retrata tão bem uma época e um lugar? Com escrita desembaraçada e temas que vão do grotesco ao curioso, buscando sempre o extraordinário no cotidiano, ele é o reflexo do Rio de Janeiro do início do século.

O futuro do livro

Editado pela gráfica Ipsis, o livro "O futuro do livro" é a própria prova de que o livro não vai acabar. Trata-se de uma coleção de 60 opiniões de autores, editores, jornalistas e outros profissionais sobre o futuro do livro. Cada um dos depoimentos ocupa duas páginas, com diagramação própria e diferenciada. O resultado final é um livro de arte e de informação e um objeto de desejo.

100 anos de Carmen Miranda

No último dia 25 de outubro, domingo passado, assisti no palco do Theatro São Pedro, templo maior da arte e da cultura de Porto Alegre, ao show ALÔ... ALÔ? 100 ANOS DE CARMEN MIRANDA, com Roberta Sá e Pedro Luís.

Carmen foi em seu tempo um fenômeno que inspirou a música, a moda, o cinema. Ela inventou uma forma de dançar, uma estética, uma postura, roupas, chapéus.

Dita Von Teese

Este resumo não está disponível. Clique aqui para ver a postagem.

segunda-feira, 26 de outubro de 2009

Vozes da cidade #2

Transcrições selecionadas de registros feitos por 10 gravadores itinerantes dentro do Brasil:

sábado - 30/10/2009 - 14h52 - Porto Alegre/RS - Banco da praça da alfândega / 55ª Feira do Livro

SOBRINHA: – Olha, tio, esse monte de livros bacanas.
TIO: – É...
SOBRINHA: – Se tu fosse pra uma ilha deserta, qual livro tu levava?
TIO: – O meu livro-caixa.
SOBRINHA: – Ah, tio, bem capaz! O que tu ia fazer com um livro-caixa na ilha se ela ia estar deserta?
TIO: – Ia montar uma cabaninha, forrar a despensa e esperar pelos próximos habitantes da ilha. Enquanto os outros inventam e lêem histórias, eu invento um jeito de ganhar dinheiro e escrevo meu lucro no livro-caixa.

Vozes da cidade #1

Transcrições selecionadas de registros feitos por 10 gravadores itinerantes dentro do Brasil:

sábado - 24/10/2009 - 22h05 - Jardins/SP - Cafeteria

FILHO: – Você não me entende!
PAI: – Eu entendo melhor a você do que você a mim.
FILHO: – Pode até ser, porque, por mais que eu tente, não consigo te entender de jeito nenhum.

domingo, 25 de outubro de 2009

Maria, irmã [conto]

Conheci uma freira em Porto Alegre que tinha uma vida secreta.

Maria se dizia adepta da filosofia segundo a qual "quem dá aos pobres empresta a Deus", por isso ela pulava os muros do convento todas as noites e ia bater ponto nas praças da Restinga. Fazia trabalho voluntário e não estipulava preço. Mesmo assim, voltava para o convento todos os dias com uns trinta reais no bolso, dinheiro que sempre colocava na caixinha de doações.

sábado, 24 de outubro de 2009

Rendez-vous [conto]


Luciano, 35 anos, casado, pai de dois filhos, encontrou o demônio em uma sauna do Catete.
Ele estava dentro de um homem muito magro, que aparentava mais de 50 anos e tinha o corpo cinzelado.

O Kindle e o fim dos livros


Muito já se falou sobre o fim dos livros, e gadgets como este parecem o prenúncio de que todas essas previsões estão se concretizando. Mas será mesmo que este é o fim do livro impresso?

sexta-feira, 23 de outubro de 2009

Plasticircose [conto]


Na despensa já não havia mais enlatados, envelopes de sopa, pacotes de massa seca ou biscoitos. Ela consumira tudo no período de quarentena, durante o qual seu único contato físico com a rua tinha sido através dos entregadores, que agora estavam de greve. Ela acompanhava pela televisão os protestos e as passeatas de pessoas cobertas pelas máscaras anti-contágio enquanto trabalhava e enviava os projetos ao escritório pela internet. Isso na medida em que conseguia energia suficiente para terminar cada tarefa. Mas parecia que a coisa toda não tinha solução para breve. O número de infectados aumentava exponencialmente e as autoridades pareciam estar apenas tentando manter tudo sob controle.

quinta-feira, 22 de outubro de 2009

The guitar

O filme de Amy Redford, com o título brasileiro de A guitarra (2008), tem um roteiro delicioso, onde não há espaço para o preconceito e a caretice. Transforma um assunto pesado como o câncer em algo leve.

A temática é muito interessante e faz pensar no rumo que cada um de nós dá à sua vida, no papel da doença e da cura no corpo e na alma do ser humano.

Hard Working Band

A concha acústica do Multipalco do Theatro São Pedro recebeu hoje a banda gaúcha de Soul Music Hard Working Band. O show estava muito bom, como sempre os músicos da banda são excelentes, o repertório é fantástico, e a voz de Andrea Cavalheiro é uma força da natureza.

Anticristo



Anticristo, de Lars von Trier, é um filme com roteiro muito forte, denso e bem estruturado. Eu o recomendaria para amigos que estão prestes a se casarem. Faz o cara pensar duas vezes.

segunda-feira, 19 de outubro de 2009

Primeiras estórias

Quando alguém disser que não existe livro de contos onde todas as histórias sejam boas e bem-escritas, lembre-se de Primeiras estórias de João Guimarães Rosa.

Neste livro de contos temos narradores menos herméticos do que o de Grande sertão:veredas, mas não menos inventivos.

Cada história é uma perfeição de enredo e estilo. O livro encerra grande parte dos melhores contos escritos em língua portuguesa.

Bastardos inglórios

O novo filme de Tarantino é catarse pura.

Neste quesito, destaque para o personagem Eli Roth, que mata os nazistas com tacadas de baseball até que suas cabeças virem massas amorfas.

Mas o melhor do filme é o personagem Christoph Waltz, o 'caçador de judeus'. Trata-se de um dos mais memoráveis personagens do cinema de todos os tempos. Sujeito ladino, asqueroso, que parece estar lutando por um ideal torpe mas, na verdade, está apenas atrás de seus próprios interesses.

Um filme perfeito na estética, no roteiro (dividido em capítulos de livro) e na direção. Viva Tarantino, que sempre nos surpreende.

Good Reads



O Goodreads é uma ótima ferramenta para manter registro sobre leituras feitas, em andamento e por fazer. O site oferece diversos títulos já cadastrados e o cadastro de novos livros é muito fácil e rápido. Ali você vai cadastrando todos os livros de sua biblioteca e pode até escrever sua sinopse e impressões de leitura para dividir com outros usuários.

História da Beleza

Enciclopédico e essencial, o livro História da Beleza, de Umberto Eco, é um must have.

Eu diria que não é um livro para ser lido de cabo-a-rabo. Mas é um ótimo livro para deixar em uma mesa de centro para olhar de vez em quando. E também para levar por aí de baixo do braço, para ler os verbetes na fila do banco, dentro do ônibus.

Retratos de Claudio Edinger

Quase que eu passo reto pela sala de exposições do Theatro São Pedro. Foi essa foto aí do lado que me chamou atenção e acabei entrando para me surpreender com retratos tão bem-feitos e reveladores das personalidades dos fotografados. A exposição fica até o dia 25/10.
De terças a sextas-feiras, das 12 às 21 horas.
Sábados e domingos, das 15 às 21 horas.

Vale à pena ver os retratos no site do fotógrafo, mas ao vivo o impacto é outro.

Shirleys Valentines

Eu já tinha assistido em 1991 a peça Shirley Valentine, com Renata Sorrah no papel título. Era uma montagem linda. O cenário era uma cozinha montada sobre um globo terrestre em cima de um linóleo preto, fazendo uma analogia direta - mas não menos bela - de que o mundo daquela mulher era apenas aquilo ali. Foi no Theatro São Pedro, em Porto Alegre, o que deixa qualquer espetáculo mais bonito.

terça-feira, 13 de outubro de 2009

Banksy


Pelas ruas de Londres e em algum lugar do mundo tem um cara misterioso que grafita os muros dos prédios com mensagens engraçadas e sérias, divertidas e provocativas: oxímoros para definir a arte de um rebelde cheio de causas – e criativo.

domingo, 11 de outubro de 2009

Ana Paula Maia

Uma voz masculina escrita pelas mãos de uma linda mulher.

Entre rinhas de cachorros e porcos abatidos, de Ana Paula Maia, é um livro como eu gosto: rápido, direto, inteligente, sem meias-palavras. Uma coleção de crueldades, personagens brutais e frases argutas. O volume trás duas histórias muito bem amarradas, onde sobra violência, mas cuja leitura não se pode abandonar até que  cheguem ao final, para onde Ana Paula nos guia com mão firme e um humor delicioso, quase tóxico.

sexta-feira, 9 de outubro de 2009

Ingresso para a Grécia

Tocante. Essa é a palavra exata para definir o filme do mesmo diretor de Casamento Grego. Este filme é muito, mas muito melhor do que o predecessor. Divertido, emocionante, tem os moldes dos filmes "água com açúcar" que a sua namorada, noiva ou esposa adoram. Mas também tem uma história inteligente e um texto muito bem escrito. E tem mais: Nia Vardalos, a atriz principal, está mais linda do que nunca. Pena que o filme está quase saindo de cartaz. No BarraShoppingSul tem última sessão hoje, com preço promocional de R$ 4,00, às 15 horas. Assista agora ou espere pelo DVD.

segunda-feira, 5 de outubro de 2009

Minicontos matadores

Foragido
Matei e Rio.

Haikill
Mato no morro
mas não morro
no mato

Mensagem da cartomorte
Irá, voltará (,) jamais (,) morrerá.

sábado, 3 de outubro de 2009

Estados da Alma - A estética da dor

A nova exposição de Arminda Lopes, dá continuidade à série de obras mostradas nas exposições Perdas e Miseráveis. As obras da escultora são viscerais e de uma força descomunal. Lindas e traumatizantes. Definitivamente inspiradoras.

Ryden

Bonecas que ganham vida e até viram santas, referências anti-carnívoras, fixação por Abrahan Lincoln, animais eviscerados, crianças com olhar cruel: o vocabulário visual de Mark Ryden é vasto e consistente. Atual e iconoclasta. Não é à toa que há muito tempo caiu nas graças de diversos artistas, para quem fez capas de discos, saindo do underground para o mainstream.

Feito homem [conto]

Chora, mano. Pode chorar. Eu sei a dor que tu sente.

E não vou dizer pra ninguém.

O medo é assim; a dor é assim: ninguém entende antes de sentir na própria carne. Essa miséria de tá amarrado sem poder fazer nada. Foi assim que eu me senti todos esses anos, apodrecendo no inferno, sem ninguém pra me consolar. E por tanto tempo, tanto tempo, que eu queria ver se tu era macho de agüentar. Mas tu já chora.

Memórias da literatura



Um site muito bacana, com podcasts e rss sobre literatura. Faz parte do projeto do Museu da Pessoa. O site é repleto de histórias sobre os autores e suas obras. Muito bem produzido, para baixar pro iPod e sair ouvindo por aí.