sábado, 31 de outubro de 2009

Vozes da cidade #4

Transcrições selecionadas de registros feitos por 10 gravadores itinerantes dentro do Brasil:

domingo - 25/10/2009 - 9h25 - Rio de Janeiro/RJ - Praia de São Conrado

MULATA: – Ih, qualé, preiboy? Tá me secando?
GAROTO: – Desculpa aí, princesa. Se eu tô te secando é porque pensei que tu tava molhadinha...
MULATA: – Aí, ó! Se liga, maluco! Criança que brinca com fogo é que se molha de noite nas cobertas...

Vozes da cidade #3

Transcrições selecionadas de registros feitos por 10 gravadores itinerantes dentro do Brasil:

sábado - 17/10/2009 - 13h15 - Rio de Janeiro/RJ - Entrada da estação de bondinho do pão de açúcar

FUMANTE: – fffffffff
PEDESTRE, furioso: – A senhora fique sabendo que meu pai morreu por causa do cigarro!
FUMANTE: – Ah, é?... Meus pêsames! fffffffffff

sexta-feira, 30 de outubro de 2009

O pequeno príncipe popup

A nova edição de O pequeno príncipe em versão pop-up é mais do que uma leitura, é uma experiência. Deixo logo um aviso aos que comprarem pensando em dar de presente para algum sobrinho, que não abram o volume. Estranhas reações de apego foram observadas em pessoas de todas as idades que entraram em contato com a obra.

quinta-feira, 29 de outubro de 2009

Pequenas fábulas urbanas #1 – A gineco sapatão

ra uma vez uma ginecologista. Ela recebia em seu consultório mais ou menos uma dúzia de pacientes por dia. A maioria delas possuía plano de saúde, poucas pagavam a consulta particular – que era caríssima. Mas isso não vem ao caso. O que interessa é que, certo dia, uma dessas pacientes, que era modelo fotográfico e uma mulher de parar o trânsito, lhe fez uma proposta. Ela disse assim: eu sempre venho aqui e você me apalpa. Quem sabe a gente não troca, pelo menos uma vez? A médica ficou um tanto surpresa, levantou a sobrancelha esquerda, e aceitou. E para poupar o tempo de vocês, que levam uma vida muito corrida, eu posso dizer que elas foram felizes para sempre, e ninguém tem nada a ver com isso. Morram de inveja. Fim.

Olhos negros [conto]

Acordou alguns segundos antes de o despertador tocar, como costumava acordar todos os dias.

Era uma manhã especialmente clara. A luminosidade invadia o quarto como nunca percebera que poderia iluminar. Pensou que deveria providenciar uma dessas cortinas mais modernas, emborrachadas e com foto-isolamento, mas isso faria com que dormisse até mais tarde.

terça-feira, 27 de outubro de 2009

Imortal [miniconto]

Se todos os computadores estragassem, escreveria com lápis. Assim que o grafite terminasse, usaria a caneta. Ao se acabar a tinta, escreveria com carvão, ou giz, ou arranharia com uma chave. Não conseguindo encontrar mais nada para riscar, usaria os dedos para escrever na areia, nas paredes, no chão de concreto. Gastaria cada um deles, até romper a pele, a carne – até atingir as falanges. E quando não tivesse mais forças para escrever, ainda assim morreria com muitas histórias guardadas e por contar. De sua jornada ficariam os papéis guardados, os papeis apodrecendo, os originais não editados, os bits e bytes perdidos em alguma conexão da rede. E todos se esqueceriam dele e de suas histórias, menos aquela única leitora que viu um dia sentada no ônibus, folheando seu livro com uma lágrima tímida no olho direito. Tão distraída, que nem viu o escritor bem ali do seu lado.

João do Rio

Como pode um autor como Paulo Barreto, mesmo sob o pseudônimo de João do Rio, ter caído no esquecimento, sendo que este autor retrata tão bem uma época e um lugar? Com escrita desembaraçada e temas que vão do grotesco ao curioso, buscando sempre o extraordinário no cotidiano, ele é o reflexo do Rio de Janeiro do início do século.

O futuro do livro

Editado pela gráfica Ipsis, o livro "O futuro do livro" é a própria prova de que o livro não vai acabar. Trata-se de uma coleção de 60 opiniões de autores, editores, jornalistas e outros profissionais sobre o futuro do livro. Cada um dos depoimentos ocupa duas páginas, com diagramação própria e diferenciada. O resultado final é um livro de arte e de informação e um objeto de desejo.

100 anos de Carmen Miranda

No último dia 25 de outubro, domingo passado, assisti no palco do Theatro São Pedro, templo maior da arte e da cultura de Porto Alegre, ao show ALÔ... ALÔ? 100 ANOS DE CARMEN MIRANDA, com Roberta Sá e Pedro Luís.

Carmen foi em seu tempo um fenômeno que inspirou a música, a moda, o cinema. Ela inventou uma forma de dançar, uma estética, uma postura, roupas, chapéus.

Dita Von Teese

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segunda-feira, 26 de outubro de 2009

Vozes da cidade #2

Transcrições selecionadas de registros feitos por 10 gravadores itinerantes dentro do Brasil:

sábado - 30/10/2009 - 14h52 - Porto Alegre/RS - Banco da praça da alfândega / 55ª Feira do Livro

SOBRINHA: – Olha, tio, esse monte de livros bacanas.
TIO: – É...
SOBRINHA: – Se tu fosse pra uma ilha deserta, qual livro tu levava?
TIO: – O meu livro-caixa.
SOBRINHA: – Ah, tio, bem capaz! O que tu ia fazer com um livro-caixa na ilha se ela ia estar deserta?
TIO: – Ia montar uma cabaninha, forrar a despensa e esperar pelos próximos habitantes da ilha. Enquanto os outros inventam e lêem histórias, eu invento um jeito de ganhar dinheiro e escrevo meu lucro no livro-caixa.

Vozes da cidade #1

Transcrições selecionadas de registros feitos por 10 gravadores itinerantes dentro do Brasil:

sábado - 24/10/2009 - 22h05 - Jardins/SP - Cafeteria

FILHO: – Você não me entende!
PAI: – Eu entendo melhor a você do que você a mim.
FILHO: – Pode até ser, porque, por mais que eu tente, não consigo te entender de jeito nenhum.

domingo, 25 de outubro de 2009

Maria, irmã [conto]

Conheci uma freira em Porto Alegre que tinha uma vida secreta.

Maria se dizia adepta da filosofia segundo a qual "quem dá aos pobres empresta a Deus", por isso ela pulava os muros do convento todas as noites e ia bater ponto nas praças da Restinga. Fazia trabalho voluntário e não estipulava preço. Mesmo assim, voltava para o convento todos os dias com uns trinta reais no bolso, dinheiro que sempre colocava na caixinha de doações.