sábado, 26 de dezembro de 2009

História do olho – Georges Bataille

Este belíssimo clássico da literatura erótica foi escrito por Bataille em 1928, sob o pseudônimo Lord Auch durante uma terapia heterodoxa com Adrien Borel. O primeiro foi W.–C., também escrito como "tema de casa" terapêutico, mas queimado pelo próprio autor (não pelo seu conteúdo libertino, mas pelo seu conteúdo e pensamentos demasiado filosóficos).

A novela acompanha as descobertas, feitos e extravagâncias sexuais do narrador e de sua amiga Simone, dois jovens que vivem magicamente à margem da censura adulta, percorrendo um cenário de sonhos. O livro faz da história libertina um veículo de revelações profundas sobre o corpo, a vida e a morte.

A edição da CosacNaify é belíssima com sua capa dura e sobrecapa com uma linda fotografia artística de uma bunda em preto-e-branco. Tem ensaios assinados por Michel Leiris, Roland Barthes e Julio Cortázar. Mas deixou de fora as ilustrações das edições originais, que poderiam ter sido retomadas.  A apresentação de Eliane Robert Moraes lança algumas luzes ineressantes sobre o livro e sobre o assunto do livro, abordando questões instigantes tais como o processo de despersonalização na relação sadomasoquista e a ligação entre esta narrativa de conteúdo sexual com o universo dos contos de fadas.

Há quem ainda se escandalize com a literatura erótica, pornográfica ou escatológica, mas este livro está aí para lembrar que nada do que se escreva hoje pode superar o que já foi escrito neste campo durante os séculos 19 e 20 por autores como Bataille ou mesmo Marquês de Sade e Leopold von Saacher Masoch – principalmente durante e após o advento da psicanálise.

"Literatura erótica", "literatura pornográfica" e "literatura escatológica", para quem já teve o prazer de passar pela verdadeira experiência transcendental que é ler esses autores, vêm a ser apenas rótulos tolos e reducionistas para um tipo de literatura rica, catártica e sem reservas.

A dimensão do sexo é uma das principais forças motrizes do ser humano, espanta muito que ainda seja tabu. O livro e a visão de Bataille, assim como a dimensão de sua obra e da arte erótica em geral na cultura francesa, mostra como esse povo consegue ser muito mais à frente dos brasileiros – que gostam de se dizer tão liberados sexualmente, mas que no fundo têm tantos preconceitos básicos na sexualidade. O brasileiro é um povo sexualizado, mas ainda preso a muitas amarras e preconceitos que impedem o livre exercício da vivência sexual plena.

O processo de escrita de História do olho trouxe a cura para Bataille através da catarse, e pode também trazer um pouco dessa cura para quem o lê.

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