domingo, 1 de novembro de 2009

Uma puta escritora

Conheci ontem, na 55ª Feira do Livro de Porto Alegre, uma pessoa extraordinária. Gabriela Leite, que já no título de seu livro se define como Filha mãe avó e puta. Mas ela é muito mais do que isso, ela é a fundadora do movimento das prostitutas no Brasil, criadora da ONG DaVida, da confecção Daspu e está aí escrevendo o seu nome nas histórias da literatura brasileira da moda. Coisa que festejo com ela, já que a literatura é também a promoção do entendimento entre as pessoas, e o preconceito é coisa cada vez mais demodé.
Está cada vez mais na moda ser o que se é, assumir o que se é. Paga-se o preço por isso, mas pela conversa que tive com ela e pelas páginas que já li de seu livro, ficou a certeza de que o preço por não se assumir as rédeas do próprio destino pode ser muito maior.

O que Gabriela Leite fez com seu livro, escolhendo este título e colocando seu próprio rosto na capa, não foi diferente de tudo o que fez ao longo de toda a sua trajetória. Tendo saído de uma família de classe média, e de um curso de filosofia na USP, ela decidiu seguir o caminho da prostituição e foi feliz.

Ela pagou o preço por ser o que é, cresceu, aprendeu. Hoje se diz prostituta aposentada (sem aposentadoria), e luta pelo direito da classe. Em seu livro e em seu discurso, ela revela um carinho imenso pelos homens, e diz que ao longo de sua carreira sempre recebeu o retorno desse carinho.

Conhecê-la é fascinante, pois ela uma pessoa que se fez, não é em absoluto o subproduto dos ambientes onde se criou e onde decidiu viver. Trata-se de uma pessoa que transitou por muitos meios e absorveu o melhor de todos eles, assumindo total responsabilidade por suas escolhas. Uma pessoa muito culta, que discute Machado de Assis, Erico Veríssimo, e sexualidade com desenvoltura e opiniões seguras e próprias. Está aí para acabar com o preconceito de muita gente.

E é uma boa escritora, que começou com um livro autobiográfico (o que é algo muito difícil de se fazer) e, espero, tenha muitas outras boas histórias para contar.

1 comentários:

Rudiran Messias disse...

Já acabei de ler o livro e é excelente. É uma história de Cinderela do século XXI. E, como todos os contos de fada têm moral da história, a moral da história deste livro e da história de Gabriela é que o preconceito não está com nada. Indico.