quinta-feira, 19 de novembro de 2009

Contos de Belkin - Алекса́ндр Пу́шкин

Os russos. Ah, os russos e seus contos de efeito. Temos neste pequenino volume de Alexander Pushkin (Алекса́ндр Пу́шкин, para os mais íntimos com a língua russa) uma verdadeira jóia exemplar. Tive o prazer de ler essa coleção de cinco contos em novembro de 2003 e reli agora, em novembro de 2009. Escritas no século XIX por um autor em quarentena devido a uma epidemia de cólera, as narrativas têm enredos trágicos mas são escritas em tom irônico – algumas com um delicioso toque farsesco.

O tiro
 conta a história de um exímio atirador, que prefere, por requintes de crueldade, deixar de matar seu rival em um duelo, deixando-o com uma mácula em seu histórico e em seu caráter mas guardando o crédito de ter sido superior. Em A nevasca dois jovens combinam de se casar às escondidas mas não levam em conta as condições climáticas possivelmente adversas que podem incidir. Em O agente funerário, o personagem principal toma uma bebedeira e se vê recebendo seus clientes para um inusitada recepção em seu novo endereço comercial. O chefe da posta é uma excelente narrativa de encaixe que conta a história de uma menina que ajudava o pai no serviço postal. O livro fecha com A sinhazinha camponesa, uma história com pinceladas góticas sobre duas famílias rivais ligadas por uma paixão entre seus jovens integrantes.

Os enredos parecem óbvios contados assim, superficialmente. Mas narrados pro Pushkin ganham muitas cores e se tornam novos e imprevisíveis. A estrutura do livro em si é o que mais contribui para seu valor literário e estético. O volume é construído como uma pequena boneca russa, uma matrioshka, onde as histórias se encaixam dentro de uma estrutura maior. As narrativas teriam sido escritas por Pushkin sob uma espécie de heterônimo (Belkin) e publicadas primeiramente por um editor fictício, cujo prefácio remete à carta de uma pessoa que conheceu Belkin pessoalmente. Em O chefe da posta este recurso chega a um requinte de profundidade onde Belkin narra uma história dentro da qual o paradeiro da personagem principal é contado pelo pai da menina. O próprio conto é uma pequena boneca russa dentro da estrutura maior do livro. 

Para integrar a biblioteca básica de qualquer contista.

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