sábado, 24 de outubro de 2009

Rendez-vous [conto]


Luciano, 35 anos, casado, pai de dois filhos, encontrou o demônio em uma sauna do Catete.
Ele estava dentro de um homem muito magro, que aparentava mais de 50 anos e tinha o corpo cinzelado.

Cruzaram-se. Olharam-se. Trancaram-se numa cabine privê e transaram loucamente, se esfregando, se chupando, se beijando, se enfiando. Peitos cabeludos, sacos pelados, picas duras, suor de macho, bundas rijas, sovacos, pentelhos, arranhanhões de barba, cus e porra.

Ele montou no cacete do diabo, que o abraçou forte demais na hora de gozar. Parecia querer sufocá-lo, enquanto urrava feito bicho selvagem abocanhando a presa. Urrava ainda mais assustadoramente, como só um demônio pode fazer. E ele estava imobilizado, não podia ver se o rosto do diabo tinha se transformado.

Depois de esporrarem, afastaram-se exauridos. O diabo tinha fogo nos olhos. Luciano sentia o corpo quente demais. Era como se tivesse contraído a febre.

Enquanto se limpavam, trocaram algumas palavras. O demônio perguntava de sua vida e se ele freqüentava muito o lugar. Ele tentava desconversar, mas não adiantava. O demônio sabe tudo e olhava para ele como quem não acreditava. Dizia-lhe coisas pelo olhar, e aquilo fazia subirem arrepios pela espinha. Falava dos perigos e doenças e riscos. Era como um aviso prévio: o perigo sou eu, o perigo é você.

Beberam cervejas no bar e ele nem viu o demônio sumir entre os freqüentadores da casa, em algum momento durante o show de strip tease.

Cansado da putaria e com um sentimento ruim no peito, ele voltou para casa e passou os três meses seguintes estressado, doente, abatido. Chegou a ficar uns dias de cama. Qualquer vento encanado lhe provocava uma gripe e já acreditava que iria morrer. Sentia nas costas as queimaduras deixadas pelos braços do demônio, mas olhava-se no espelho e não via ali nenhuma marca.

Luciano, 35 anos, casado, pai de dois filhos, foi ao médico, fez exames de sangue e espera quase louco pelos resultados. As costas lhe ardem, o pulmão está oprimido e a saúde não vai nada bem. Mas pode não ser nada, por enquanto.

1 comentários:

Rudiran Messias disse...

• tem tudo para integrar "Pequenas Fábulas Urbanas", apesar de ser um pouco mais extenso.