terça-feira, 27 de outubro de 2009

Imortal [miniconto]

Se todos os computadores estragassem, escreveria com lápis. Assim que o grafite terminasse, usaria a caneta. Ao se acabar a tinta, escreveria com carvão, ou giz, ou arranharia com uma chave. Não conseguindo encontrar mais nada para riscar, usaria os dedos para escrever na areia, nas paredes, no chão de concreto. Gastaria cada um deles, até romper a pele, a carne – até atingir as falanges. E quando não tivesse mais forças para escrever, ainda assim morreria com muitas histórias guardadas e por contar. De sua jornada ficariam os papéis guardados, os papeis apodrecendo, os originais não editados, os bits e bytes perdidos em alguma conexão da rede. E todos se esqueceriam dele e de suas histórias, menos aquela única leitora que viu um dia sentada no ônibus, folheando seu livro com uma lágrima tímida no olho direito. Tão distraída, que nem viu o escritor bem ali do seu lado.

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