sábado, 24 de outubro de 2009

O Kindle e o fim dos livros


Muito já se falou sobre o fim dos livros, e gadgets como este parecem o prenúncio de que todas essas previsões estão se concretizando. Mas será mesmo que este é o fim do livro impresso?



O Kindle tem tela de e-paper, que é muito diferente das telas de computador e se assemelha ao papel branco dos livros. Ele tem conexão wireless, é muito leve e tem capacidade de armazenamento enciclopédico. Permite que se vire e se marque as páginas e até que se digite anotações nele. Recebe jornais do dia antes que cheguem às bancas e livros novos 60 segundos após serem comprados. Agora com conexão via satélite e alcance global. A versão americana ainda permite postar em blogs através dele. O Kindle é e faz muitas coisas, mas não é e não vai provocar o fim dos livros.

Quando surgiu a fotografia, muitos falaram do fim dos retratos pintados à mão. Hoje vemos que a prática de se produzir retratos a pincel diminuiu e em muitos casos foi substituída pela fotografia, mas definitivamente não foi o fim dos retratos ou das pinturas em geral. Elas apenas mudaram seus propósitos e características. Fizeram as artes plásticas evoluírem.

O mesmo ocorreu com o advento da televisão, que jamais acabou com o rádio. Da mesma forma com a internet, que não acabou com a televisão ou os livros, apenas deu novo fôlego e novos ares para que eles encontrassem novas formas de expressão. Hoje temos a televisão digital interativa e os blogs.

As revistas também não enterraram os livros, a internet não acabou com os jornais, o cinema não foi o fim da literatura, os alimentos transgênicos não substituíram (totalmente) os orgânicos – apenas lhes deram o nome e um novo impulso. As tecnologias surgem e convivem muito bem com suas predecessoras. Todas elas acabam se retroalimentando de alguma forma e contribuindo para a evolução umas das outras.

O que sempre ocorreu foi que as novas formas de comunicação e todas as inovações tecnológicas em geral jamais provocaram o fim de suas antecessoras. Ocorreu apenas uma mudança no foco e no uso daquilo que era mais antigo. Por exemplo, o surgimento das revistas coloridas mensais acabou com os almanaques impressos, mas não acabou com os livros.

Portanto, como estudioso e especialista em comunicação social e em novas mídias, amante dos livros e revistas e internet tecnologia e etc. – e com todos os poderes que me foram concedidos – eu venho tranqüilizar a quem possa através desse post, dizendo que os livros não vão terminar.

O que vai acontecer, no máximo, é o fim de alguns tipos de livro. Acredito que o Kindle, a médio/longo prazo, pode acabar com os livros pocket de papel jornal feitos nos Estados Unidos, por exemplo. Eles perdem o sentido enquanto objetos. Da mesma forma alguns livros universitários pesados, livros didáticos, dicionários e outros volumes que necessitam de atualização constante.

Já os livros de forma geral, certamente vão se reinventar. E os livros-objeto, os livros de arte, os livros em capa dura, ganham definitivamente um novo impulso. E o livro em papel, ainda que seja apenas livro texto, segue sem jamais perder sua majestade. O volumen continua sendo o guardião da versão final, da legitimação da obra e de seu registro e eternização.

Então, vá até sua biblioteca, abra um de seus livros e se delicie com a leitura. Vire as páginas, sinta a textura do papel, e tenha a certeza de que muitos desses livros ainda vão ser aproveitados pelas gerações vindouras. Mas, podendo, não deixe de comprar um Kindle, tenho certeza de que você, como eu, vai encontrar nele um novo prazer na leitura.

Sobre o "fim dos livros", leia também este post no blog de Charles Kiefer.

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